José Joaquim de Almeida

Nascido em terras da Beira Alta, mais precisamente no lugar da Ponte, em São Pedro do Sul, no primeiro dia do ano de 1854, encontramos uma personalidade marcante no campo da medicina e da  generosidade, José Joaquim de Almeida. Oriundo de uma família modesta de agricultores, mas que formou e educou os filhos como senhores.

 

Um conjunto de irmãos que brilhou na sociedade do seu tempo, o Padre António de Almeida era capelão do Santuário do senhor da Pedra em Óbidos, o Dr. Fernando de Almeida que foi médico na Golegã, casou com uma irmã da condessa de São Januário foi pai das artistas de teatro Fernanda e Maria Corte Real e o célebre cavaleiro tauromáquico, Manuel Casimiro de Almeida foi o toureiro de maior prestígio na sua época.

 

José de Almeida formou-se em medicina a 27 de Julho de 1876 pela escola Médico-Cirúrgica do Porto, passou nesse mesmo ano a viver Oeiras onde, prestou serviço na Fábrica de Lanifícios do empresário José Diogo. Que viria mais tarde a ver seu sogro pois, casou com a filha. Virgínia da Purificação da Silva e, apenas do amor e cumplicidade que os unia não tiveram filhos.

 

Figura inconfundível, magro e elegante extremamente sensível, embora por vezes quisesse parecer indiferente e antipático, para disfarçar a verdadeira preocupação que sentia pela dor alheia. No entanto, os doentes conheciam-no tão bem que por mais rude que se mostrasse ninguém o temia.

 

Era um mártir dos seus doentes, fossem eles ricos ou pobres, a todos tratava com grande competência e desinteresse, tratou as melhores famílias portuguesas de toda a Linha, era muito respeitado e estimado por todos os colegas.

 

Ocupou o lugar de facultativo do partido, como na altura era designado o cargo de Médico Municipal. A 10 de Novembro de 1876, com pouco mais de vinte anos apresenta-se a concurso ao cargo de partido de cirurgia e medicina deste concelho mas, os sucessivos trâmites do concurso arrastaram-se até 1880 e a favor de outro médico municipal, o sexagenário Estanislau Moreira d´Azevedo.

 

Só em 1887 vem a ser admitido para o lugar de Médico Municipal, exerceu também o cargo de subdelegado de saúde e esteve ligado à Associação de Socorros Mútuos.

 

Conhecido como impulsor da assistência aos tuberculosos em Portugal considerava o Sol um objeto de culto e de defesa para a saúde. Foi o fundador e diretor do Sanatório Marítimo de Carcavelos, a 24 de Agosto de 1902, fez da profissão um sacerdócio, homem de ciência e grande amigo dos pobres, prestou serviço e dedicou a sua vida à assistência pública, principalmente às crianças.

 

Ficou conhecido pelo zelo e caridade, chegando a instalar na sua própria residência, doentes carenciados que tratava com sabedoria e a quem a sua mulher prestava dedicadamente serviços de enfermagem.

 

Especializou-se em Lisboa, como um oftalmologista holandês Van der Land, contudo, a preocupação constante com todos os que sofriam de uma das mais devastadoras doenças do século, a tuberculose, levou-o a estudar afincadamente este problema e conseguiu com o apoio Tomás Ribeiro, outro residente no concelho, a cedência do terreno onde se localizava o Forte do Junqueiro, na Praia de Carcavelos.

 

Este terreno serviu para construir o Sanatório Marítimo de Carcavelos, visto que o seu clima foi considerado o melhor local senatorial destinado ao tratamento da tuberculose óssea, ação que teve o apoio financeiro de Dª Maria Albina Barracho Encerrabodes.

 

A medicina absorvia-lhe grande parte do tempo mas para desanuviar gostava de montar a cavalo, tocar piano e violino. Adorava jogar ténis, de calça de flanela branca e raquete em punho esquecia por momentos os micróbios e os doentes que lhe ocupavam a mente. Homem de grande cultura falava francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e analisava arte e literatura com a mesma segurança com que discutia ciência. Apaixonado por caça, sempre que podia ia às perdizes a Óbidos e com amigos às caçadas de javali a Ferreira do Zêzere.

 

Quis o destino que a sua vida fosse consagrada à medicina, quantas vezes no meio de uma partida de ténis, aparecia um pedido urgente de auxílio, largava tudo corria para acudir a quem precisava, a maioria das vezes sem receber honorários. Caçadas, então eram raras, havia sempre doentes graves que não ousava abandonar nem por um dia. E nem mesmo ao violino podia dedicar-se em sossego, foram inúmeras as vezes que o teve que guardar na caixa, para ir a casa do Marquês da Fronteira, em Paço de Arcos, ou a casa de Tomás Ribeiro, na Feitoria, para socorrer casos urgentes.

 

Passou a sua vida a fazer o bem, homem de admirável cultura, dedicou-se sempre com humildade e competência a todos os sofredores que o procuravam, integrou a notável instituição fundada pela Rainha D. Amélia de Orleães, a Assistência Nacional aos Tuberculosos.

 

Foi fundador e Diretor do Sanatório Marítimo cargo que exerceu sem qualquer remuneração, representou Portugal nos congressos internacionais de Estocolmo, de Roma e de Berlim, visitando os sanatórios de Berk e Margate em missão de estudo por ordem do governo.

 

Residiu em Oeiras cerca de 30 anos, inicialmente no palacete do pai da sua mulher, na quinta de São Pedro do Areeiro, perto da velha estrada da Torre, mas, anos mais tarde, o palacete, a quinta e a fábrica foram vendidos e instalou-se numa casa doada por uma cliente, na Rua Cândido dos Reis nº 156, em 1924, hoje o nº 66 e propriedade da Misericórdia de Oeiras.

 

Já na parte final da sua vida foi médico militar na altura da primeira grande guerra.  Faleceu a 18 de Dezembro de 1921, aos 67 anos. A sua partida deixou uma enorme saudade, no médico e o munícipe.

 

O Sanatório Marítimo, após a sua morte recebeu o seu nome e passou a ser conhecido como Sanatório Dr. José de Almeida atualmente Hospital Ortopédico António José d´Almeida em Carcavelos. 

 

HENRIQUES, Ana – «A vez de José Joaquim de Almeida: Médico Municipal». Conhecer Oeiras nº 11. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2006