Branca de Gonta Colaço

De seu nome completo Branca Eva de Gonta Syder Ribeiro Colaço, nasceu no dia 8 de julho de 1880, em Lisboa. Filha do poeta Tomás Ribeiro e de Ann Charlotte Syder, desde muito cedo começou a interessar-se pela escrita.

 

Deu largas provas do seu talento de poetisa, dramaturga, conseguindo afirmar-se em áreas tão variadas como complexas. Após a publicação do seu livro “Memorias da Marquesa de Rio Maior” em 1930 pela editora Parceria, foi considerada mais tarde, uma referência no género memorialista. Ainda hoje, e com  uma reedição desse símbolo dos longínquos anos 30, é considerado  “um texto raro, uma fonte imprescindível para quem se interesse pelo estudo do fim da Monarquia em Portugal”, como afirma a prefaciadora desta nova edição, Maria Filomena Mónica.

 

“Não querendo fazer história mas contar histórias”, Branca de Gonta Colaço capta a essência dos episódios descritos pela Marquesa. Os acontecimentos são contados com minúcia cinematográfica, num registo enriquecido pela própria vivência dos mesmos: a viagem inaugural dos caminhos-de-ferro (de Lisboa ao Carregado), a vida no Paço onde a autora era dama da Rainha e sua amiga íntima, o casamento de D. Carlos com D. Amélia, o Regicídio…

 

Branca de Gonta Colaço transcreve fielmente, e com raro talento, tudo o que a narradora (a Marquesa) lhe relata da sua vida ao longo de cinco reinados: Dª Maria II, D. Pedro V, D. Luís, D. Carlos, D. Manuel II. O livro vem enriquecido com fotografias e imagens de época, constituindo uma oportunidade única de criar uma imagem mental daqueles tempos.

 

Aristocrata por excelência, foi uma fervorosa apoiante do regime Monárquico, consequência da sua criação e das amizades que foi mantendo juntos da classe nobre. Chegou inclusivamente a militar a favor da restauração da Monarquia depois da implantação da República em 1910.

 

Não se sabe o que aproximou Branca de Gonta Colaço de Maria Archer com quem escreveu, em co-parceria, o livro “Memórias da Linha de Cascais”. Para além dos 25 anos que diferem na idade, enquanto a primeira era uma monarca convicta e militante, vivendo no meio aristocrático, a segunda era uma progressista, feminista, prosadora e uma mulher atenta e preocupada com o problema das colónias. Podemos crer que, independentemente de terem sido amigas ou não, unia-as a necessidade de registarem as suas vivências, o que viam e sentiam por região.

 

Francisco José Viegas, no seu Blogue diz: “Há outro livrinho de época que sempre me tocou, dentro do mesmo género: Memórias da Linha de Cascais, de Branca Colaço e Maria Archer”.

 

Branca de Gonta prefaciou e editou as cartas de Camilo Castelo Branco para o seu pai, Tomás Ribeiro, assim como tinha feito anteriormente com a primeira edição das “Memórias da Marquesa de Rio Maior”. Colaborou no jornal humorístico “O Talassa”, dirigido pelo seu marido, o pintor, azulejador e caricaturista Jorge Colaço, que apresentou ao público uma faceta mais descontraída da escritora.

 

A vasta bibliografia desta escritora conta com 39 títulos.

Fruto do seu casamento com Jorge Rey Colaço, com quem uniu matrimónio com a tenra idade de 18 anos, nasceram três filhos, Tomás Ribeiro Colaço em 1899, Ana de Gonta Colaço em 1903 e Maria Cristina Raimunda de Gonta Colaço em 1905. A primeira residência de casada foi na Feitoria, em Oeiras , na casa que fora de seu pai.

Branca Colaço parece muito ligada ao concelho. Vive em Carnaxide e crê-se que também tenha vivido em Caxias onde se acredita que tenha falecido o marido. Com as suas crónicas podemos verificar que ela vive muito ligada à vida social que a rodeia, comentando as idas às coletividades, referindo-se a sessões solenes onde tomava a palavra.

 

Como quem sai aos seus não degenera, Tomás Ribeiro Colaço prontamente seguiu os passos da sua mãe. Descendente de uma família de artistas rapidamente se afirmou como poeta e dramaturgo mas, mais particularmente, como crítico humorista. O seu estilo foi, inclusivamente, comparado ao de Eça de Queirós.

 

Poucos dias antes de falecer no dia 22 de Março de 1945, Branca de Gonta Colaço proibira os seus filhos de anunciarem o seu falecimento. Disse: “podem mandar celebrar as missas que quiserem e puderem por minha alma, mas eu não quero que ninguém se incomode por minha causa”. Depois, pediu a Extrema-unção, que recebeu em plena consciência… e quatro dias depois descansou finalmente. O último livro que escreveu sob o título “Abençoada a hora em que nasci” foi, curiosamente, publicado postumamente em 1945.

 

ROCHA, Carla – «Branca de Gonta Colaço: escritora». Conhecer Oeiras nº 9. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2005